Preâmbulo

Preâmbulo dos Estatutos da Mucombo Wildlife & Biodiversity

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Preâmbulo
(Artigo 2.º dos Estatutos)

A Península de Machangulo, localizada no sudoeste de Moçambique, é um território extraordinariamente rico em biodiversidade e ecossistemas, dotado de paisagens de qualidades estéticas, ecológicas e culturais específicas e excepcionais, e potencial de produção de serviços ecológicos. Com cerca de 20 km de extensão e 10 000 hectares de área terrestre, detém na parte oriental uma linha de costa banhada pelo Oceano Índico, com praias de areias finas e dunas fortemente arborizadas, e na parte ocidental uma linha bordejando a Baía de Maputo, com importantes mangais, onde desaguam sete rios. No extremo norte, separado pelo canal de Santa Maria, encontra-se a Ilha da Inhaca, sede da Estação de Biologia Marítima da Inhaca, e, no extremo sul, o importante e significativo Parque Nacional de Maputo, anteriormente conhecido por Reserva de Elefantes. A Península integra a Área de Protecção Ambiental de Maputo e a extensa Área Transfronteiriça de Lubombo, que envolve também áreas de conservação da África do Sul e da Suazilândia. A diversidade de habitats, composto por zonas de coral, lagoas e outras águas interiores, savanas, mangais, dunas arborizadas, é lugar de procriação e nidificação de espécies migratórias de animais selvagens, particularmente tartarugas marinhas e aves aquáticas, e refúgio de espécies vulneráveis ou em perigo de extinção como a tartaruga-comum (Caretta caretta), a tartaruga-de-couraça (Dermochelys coriacea) e o dugongo (Dugong dugon), entre outros. A Península é sede de oito  comunidades locais que se dedicam, predominantemente, à agricultura de subsistência, à pesca artesanal, e como mão-de-obra em estâncias turísticas locais.

Não obstante constituir um rico e importante património natural para a humanidade, este território ainda não detinha uma instituição científica local e permanente que promovesse um estudo investigativo, sistemático e razoavelmente completo para a sua integral documentação, valorização e dinamização. Um importante aspecto a ter em conta é a elaboração, em permanente actualização, de um quadro de estudo e análise dos perigos e ameaças, seja por razão da acção do homem ou das alterações climáticas, e de avaliação do estado e situação geral no contexto da problemática associada à conservação da natureza e da biodiversidade. Outro aspecto a ter em conta é o desenvolvimento de esforços para a recuperação dos ecossistemas e habitats, incluindo pela reposição de espécies, que se tornam importantes no actual e acelerado processo de globalização e degradação ambiental. Dentre estes esforços, emerge a ideia de constituir a Península como Sítio Ramsar, convenção à qual Moçambique é já parte signatária desde 2004.

A instituição nasce da consciencialização desta problemática, e assume o importante e urgente papel de agir-se localmente, com base nos valores e princípios do desenvolvimento sustentável, tais como dimanados pela Convenção sobre a Diversidade Biológica, alinhando-se com os objectivos da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Selvagens e a Convenção sobre as Zonas Húmidas de Importância Internacional (Ramsar), tendo como ponto de partida as orientações estratégicas e programáticas da 2021-2030 Década dos Oceanos e da 2021-2023 Década da Restauração dos Ecossistemas, sem esquecer as da 2011-2020 Década da Biodiversidade, dimanadas pelas Nações Unidas.

Os esforços na conservação da natureza e da biodiversidade dependem criticamente da participação activa, consciente e motivada das comunidades locais, os primeiros responsáveis na salvaguarda e utilização dos recursos naturais locais, dos quais deles dependem e são os primeiros beneficiários. Neste sentido, torna-se essencial complementar as actividades de natureza científica e tecnológica com as de desenvolvimento humano e comunitário, através de actividades de educação e sensibilização sobre os temas prementes e de formação e treino profissionalizante, prioritariamente dirigido aos jovens, induzindo progressivamente a integração na sociedade dos valores e princípios do desenvolvimento sustentável e dos modelos da economia verde, azul, e circular, dinamizando, subsidiariamente e para estes efeitos, o desenvolvimento do voluntariado e o papel dos embaixadores de boa-vontade, e, entre estes, os de jovens embaixadores de boa-vontade.

No sentido de maximizar a sua acção e influência, a instituição constitui-se num modelo organizacional simples, flexível, e de base matricial, que promove a interacção entre as suas unidades e subunidades orgânicas, as quais se devem pautar por princípios de economia, eficácia e eficiência na utilização dos recursos, centrando e dirigindo a sua acção para os resultados, podendo funcionar de forma concentrada ou desconcentrada, central ou periférica, estruturando-se em duas áreas distintas, uma administrativa e outra científica e de desenvolvimento.

A vida na instituição organiza-se em torno dos membros e colaboradores, enriquecida pela presença regular dos habitantes locais, dos visitantes externos e por um ambiente de cultura, lazer, liberdade de expressão e fertilização do espírito, de estímulo ao desenvolvimento da crítica racional e das ideias criativas e inovadoras, potenciado pelas maravilhas naturais e culturais da Ponta Mucombo, donde decorre e emana um enfoque da sua acção e influência para todo o território da Península de Machangulo, que tão magicamente fascinam o visitante.

A biosfera é o domínio donde se desenrola a vida e a sua preservação é a chave da nossa sobrevivência enquanto espécie e neste planeta. A conservação da diversidade biológica é uma preocupação comum da humanidade, é parte integrante do processo de desenvolvimento, e abrange todos os ecossistemas, espécies e recursos genéticos. Ao visionar um mundo rico em biodiversidade com ecossistemas saudáveis, resilientes e sustentáveis, a instituição assume como sua missão central contribuir para a conservação da natureza e da biodiversidade, em benefício das gerações actuais e futuras, juntando-se ao esforço colectivo de zelar pela nossa colectiva casa, o nosso maravilhoso planeta:

a Terra

A Terra vista do espaço | 2015 © NASA