Ecossistemas & Habitats

Ecossistemas & Habitats

  • Publicado em TEMAS ESTRATÉGICOS

Prevenir, deter e reverter a perda da natureza.

Contexto

Os seres vivos não existem por si próprios. De facto, a vida no nosso maravilhoso planeta – a Terra – é uma realidade conformada por um complexo composto por todos os seres vivos, que se interligam vitalmente uns aos outros através de interdependências funcionais, onde cada um desempenha o seu papel, e, colectivamente, estabelecem um equilíbrio ecológico. Essas funções estão também associadas à ligação às áreas geográficas, terrestes ou aquáticas, e a simbiose estabelecida, fortalecida pelos mecanismos da evolução, acabaram por estabelecer zonas onde se adaptaram e especializaram determinadas formas de vida, as espécies, num todo organicamente estável, saudável e propício ao desenvolvimento e preservação da vida. Essas zonas especializadas são os ecossistemas e os habitats. Sem estes, a vida não é possível na Terra.

A vida no planeta é um enorme complexo que interliga as espécies aos seus ecossistemas e habitats num todo que se deve manter estável, equilibrado, saudável, sustentável e resiliente. Esse todo é a biosfera.

Estudar, investigar, analisar e documentar os ecossistemas e habitats é, pois, um importante e fundamental tema estratégico em qualquer esforço na conservação da natureza e da biodiversidade.

Este tema estratégico, Ecossistemas & Habitats, interliga-se naturalmente com ou outro tema estratégico, Biodiversidade & Vida Selvagem, mas distingue-se pela abordagem e foco de acção. O tema Biodiversidade & Vida Selvagem promove linhas de desenvolvimento dirigidas ao estudo, investigação, análise e documentação dos seres vivos enquanto indivíduos e espécies. O tema Ecossistemas & Habitats aborda os seres vivos nas suas interligações e interdependências funcionais entre espécies diferentes, em associação com os meios e as condições nas áreas onde se desenvolvem, numa visão global e de grupo. Este tema está, pois, intimamente associado ao esforço da documentação, valorização e dinamização das áreas de conservação e protecção ambiental, observadas e analisadas como um todo.

Linhas de desenvolvimento

A - Observar, documentar e registar os ecossistemas e habitats encontrados, analisar e demonstrar a relevância do seu papel na conservação da natureza e da biodiversidade, particularmente aqueles dirigidos para as espécies em estado de vulnerabilidade, perigo e ameaça, incluindo as áreas vitais que representam hotspots de biodiversidade e nichos de procriação ou nidificação de animais migratórios.

B - Formular, promover e implementar, em coordenação com as comunidades locais e as autoridades competentes, planos de maneio dos ecossistemas e habitats, dirigidos para a utilização sustentável dos recursos naturais e desenvolvimento da economia circular e sustentável, tendo por base a preservação dos equilíbrios ecológicos e a melhoria das condições de vida dos beneficiários dessa utilização.

C - Promover estudos, investigação e relatórios para o apoio à fundamentação de políticas públicas dirigidas à conservação da natureza e da biodiversidade, incluindo na proposta do estabelecimento de novas áreas de conservação e protecção ambiental, ou aumento das existentes, na constituição de santuários de vida selvagem, e, ainda, nos esforços de constituição de novas áreas com especial categorização pelas Convenções internacionais, entre elas a Ramsar.

D - Promover a ligação a linhas de desenvolvimento económico com base nos valores e princípios da filosofia do desenvolvimento sustentável.

E - Promover estudos de contexto e situação para a fundamentação e implementação de planos de gestão integrada do território e, neste sentido, nos esforços para a capacitação em meios e recursos, e o desenvolvimento das infraestruturas necessárias.


Fotografia © João Barra Góias

Estamos a mudar a vida na Terra.

"A rica tapeçaria de vida no nosso planeta é o resultado de mais de 3,5 mil milhões de anos de evolução histórica. Foi moldada por forças como as mudanças na crosta do planeta, eras glaciares, incêndios e a interação entre espécies.

Agora, está sendo cada vez mais alterada pelos humanos. Desde os primórdios da agricultura, há cerca de 10.000 anos, até à Revolução Industrial dos últimos três séculos, remodelámos as nossas paisagens numa escala cada vez maior e duradoura. Passámos de derrubar árvores com ferramentas de pedra para literalmente mover montanhas para extrair os recursos da Terra. As antigas formas de colheita estão a ser substituídas por tecnologias mais intensivas, muitas vezes sem controlos para evitar a colheita excessiva. Por exemplo, a pesca que alimentou as comunidades durante séculos foi esgotada em poucos anos por enormes navios guiados por sonar que utilizam redes suficientemente grandes para engolir uma dúzia de aviões jumbo de uma só vez. Ao consumir cada vez mais recursos da natureza, ganhámos alimentos mais abundantes e melhores abrigos, saneamento e cuidados de saúde, mas estes ganhos são frequentemente acompanhados por uma crescente degradação ambiental que pode resultar em declínios nas economias locais e nas sociedades que elas apoiam.

Em 1999, a população mundial atingiu os 6 mil milhões. Especialistas das Nações Unidas preveem que o mundo terá de encontrar recursos para uma população de 9 mil milhões de pessoas daqui a 50 anos. No entanto, as nossas exigências relativamente aos recursos naturais do mundo estão a crescer ainda mais rapidamente do que os nossos números: desde 1950, a população mais do que duplicou, mas a economia global quintuplicou. E os benefícios não são distribuídos igualmente: a maior parte do crescimento económico ocorreu num número relativamente pequeno de países industrializados.

Ao mesmo tempo, os nossos padrões de vida estão a mudar a nossa relação com o ambiente. Quase metade da população mundial vive em vilas e cidades. Para muitas pessoas, a natureza parece distante da sua vida quotidiana. Cada vez mais pessoas associam os alimentos às lojas, e não à sua fonte natural."

Sustaining life on Earth: How the Convention on Biological Diversity promotes nature and human well-being,
© Secretariado da Convenção sobre a Diversidade Biológica, Abril 2000